01 agosto 2010

Carioca sabe...

Estava passeando no Parque do Flamengo, mais especificamente do lado da Marina da Glória. Já passava das 18h e estava escuro. Um barulho alto, "seco" se fez ouvir.
Ouvi o seguinte relato:
Isso é tiro.
É tiro sim, certeza, e de três oitão!
Como você sabe?
ah, ali na Tavares Bastos antes a gente brincava... aí fica esperto! reconhece.

(A favela Tavares Bastos fica do lado da Glória. como a maioria das que ficam na Zona Sul do Rio, tem uma vista fantástica da cidade. É possível ver toda a Baia de Guanabara, a ponte Rio-Niterói e a cidade. Visual maravilhoso)

Terminei de beber minha água de coco e continuei a caminhada.

Será que são muitos os cariocas que reconhecem barulho de disparo de armas?

19 fevereiro 2010

notas sobre a ausência

"Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?..."

Tenho sede de cessar a ausência
A ausência de meus amigos, da família, sempre por opção
A ausência de estar junto sempre
A ausência de contato físico com qualquer
A ausência de carinho
Quero matar a ausência

Celular não cala, a ausência
"Te amo" à distância também não

Preciso sentir o calor de vocês por perto, mesmo sem informar da necessidade
Acho que necessito da necessidade
Não quero um viver de ausências
Que ela seja uma exceção.

12 fevereiro 2010

Sobre gaivotas, barulho, mar e choro.

Hoje acordei mais cedo que o habitual. Levantei. Tomei café. Peguei o ônibus de todo dia para o trabalho de todo dia, como toda segunta, terça, quarta, quinta e sexta-feira.

Uma tristeza tomava conta de mim desde os minutos antes de acordar e saber que estava triste. O motivo poderia ser solidão, saudade da infância, saudade..., carência de algo que não sei descrever. O motivo não estava claro, completamente diferente do que se podedia ver da janela do ônibus.

Um sol que às 7h30min já estava castigante, uma praia de mar azul com pessoas felizes e donas de casa passeando com seus animais de estimação pelas ruas do Leblon.

Olhando o mar bater sem vontade nas pedras na estrada do elevado do Joá, as aves procurando por comida nos barcos pesqueiros e eu dentro de um ônibus cheio.

Pensei no dia. Pensei no Diego. Pensei na vida. Pensei na mãe da Isa.
Surge uma coisa estranha na barriga, não era dor, mas uma "coisa" que estava ligada aos sentimentos, algo como a esperança, algo como o desejo da felicidade que desejamos a quem realmente amamos. E chorei.

10 fevereiro 2010

A educação

Hoje saí mais tarde do trabalho e quando isso acontece enfrento um exército de trabalhadores ávidos para chegar em suas casas o mais rápido que conseguirem. Acontece que o metrô do Rio de Janeiro fica minúsculo quando chega 18h. E não importa quem esteja em sua frente, você provavelmente vai ser empurrado para dentro ou para fora do carro em algum momento da viagem.

É fato que já tive que descer em outra estação por conta da superlotação. Espremido entre um senhor e a porta vou eu de Ipanema até o Catete, onde desço.

Do meu lado tinha os bancos destinados aos idosos, gestantes, deficientes e pessoas com crianças de colo. Duas garotas de aproximadamente 15 ou 17 anos estavam sentadas neles, e eu espremido entre uma porta e um senhor que deveria estar sentado em um banco reservado para ele.

Só escuto alguém falando: garota, dá licença para o senhor aqui sentar!

Olho para o lado e não vejo nenhuma delas mover o rosto se quer para olhar quem está falando.

Em alguns segundo eu percebo que muitas pessoas "revoltadas" com a situação começam a falar para uma das garotas saírem do banco.

Na estação seguinte surge um guarda do metrô e as obriga a deixarem livre os bancos.

Todos no carro, comovidos com a ação, vibram. Eu também.


novo?

Mais de um ano sem postar nada por aqui.


Voltando...

21 agosto 2008

me contaram.

Outro dia me contaram uma história, típico conto rural, daqueles de antigamente:

Eu tinha aproximadamente dez anos. Sempre tive muitos primos que nas férias da escola eu tinha que me esforçar para decorar os nomes de todos que chegavam na casa de meu vô.

Em cidade do interior tudo acontece, e a história a seguir foi lá. Não eram as férias. E sim dias comuns em que até o vento é novidade.
Meu primo, que morava três casas após a minha, me viu andando sem destino, sem rumo pelo meio do mato que ficava no fundo de nossas casas (um terreno muito grande que hoje é um condomínio) e me chamou para ir com ele até onde os bois ficavam para alimentá-los. Fui.

Chegando lá havia um boi da fazenda vizinha que tinha fugido e não deixava a vaca dele em paz. Queria, creio eu, acasalar. Meu primo não gostando da situação tangeu-o, mas ele pulou novamente o curral de arame farpado. E daquela vez, foi é comer a ração.
Por um instante, como um animal maior que o touro, meu primo pulou e pegou sua faca e, com vários golpes no pescoço, dexou-o tonto.
O touro saiu andando, parou próximo a sua verdadeira residência e deitou.

Eu fiquei proibido de comentar o ocorrido com qualquer pessoa.

Ouvi meu pai falando com um vizinho para informar o pessoal que morava na vila para dividir a carne, caso contrário estragaria.

No outro dia minha tia me perguntou se eu tinha visto alguém diferente, estranho andando pela fazenda, ou próximo. Sem perguntar nada respondi que não.

Meu primeiro grande segredo foi um assassinato.

17 agosto 2008

é realmente necessário?

Outro dia me questionaram sobre o meu trabalho.
Há sete anos fotografo festas de casamento, aniversários, formaturas e afins.
A pergunta foi: é preciso fazer uma festa para mostrar para a família e amigos que você terminou uma faculdade?
Na verdade a conversa foi por longos minutos sobre tudo o que envolve a festa, a formação de um grupo de pessoas dispostas a organizar tudo, até as empresas que trabalham apenas para este fim.

Por que eu gastarei uns três mil reais para participar de uma festa que dura umas oito horas e depois só me respará umas fotos (que terei que pagar muito caro para tê-las)?
Por que temos que nos expor em um baile para amigos e família?
por que precisamos nos afirmar, mostrar que existimos e somos importantes?
Por que precisamos provar que somos capazes?

Precisamos realmente de auto afirmação?

Creio que uma formatura, como acontece em Cuiabá ou outras cidades do Brasil, não aconteça em nenhuma outra parte do mundo. Me parece que há uma necessidade do brasileiro de se mostrar, exibir o seu "valor", a sua "capacidade" através de uma festa ostencível. Como se através dela em que, você como formando, é o centro das atenções, desde a sua roupa que é diferente e mais chamativa que as demais até o momento em que surge, de algum lugar, como um dos donos da festa. Apresentando-se, agora como um "novo" profissional que está a serviço da sociedade.

Um baile de formatura não é nada mais que uma vitrine de shopping. Muda o propósito, mas não o estado.



Ps: Além de fotógrafo sou estudante (em duas faculdades) e também sou da comissão organizadora das festas.