21 agosto 2008

me contaram.

Outro dia me contaram uma história, típico conto rural, daqueles de antigamente:

Eu tinha aproximadamente dez anos. Sempre tive muitos primos que nas férias da escola eu tinha que me esforçar para decorar os nomes de todos que chegavam na casa de meu vô.

Em cidade do interior tudo acontece, e a história a seguir foi lá. Não eram as férias. E sim dias comuns em que até o vento é novidade.
Meu primo, que morava três casas após a minha, me viu andando sem destino, sem rumo pelo meio do mato que ficava no fundo de nossas casas (um terreno muito grande que hoje é um condomínio) e me chamou para ir com ele até onde os bois ficavam para alimentá-los. Fui.

Chegando lá havia um boi da fazenda vizinha que tinha fugido e não deixava a vaca dele em paz. Queria, creio eu, acasalar. Meu primo não gostando da situação tangeu-o, mas ele pulou novamente o curral de arame farpado. E daquela vez, foi é comer a ração.
Por um instante, como um animal maior que o touro, meu primo pulou e pegou sua faca e, com vários golpes no pescoço, dexou-o tonto.
O touro saiu andando, parou próximo a sua verdadeira residência e deitou.

Eu fiquei proibido de comentar o ocorrido com qualquer pessoa.

Ouvi meu pai falando com um vizinho para informar o pessoal que morava na vila para dividir a carne, caso contrário estragaria.

No outro dia minha tia me perguntou se eu tinha visto alguém diferente, estranho andando pela fazenda, ou próximo. Sem perguntar nada respondi que não.

Meu primeiro grande segredo foi um assassinato.

17 agosto 2008

é realmente necessário?

Outro dia me questionaram sobre o meu trabalho.
Há sete anos fotografo festas de casamento, aniversários, formaturas e afins.
A pergunta foi: é preciso fazer uma festa para mostrar para a família e amigos que você terminou uma faculdade?
Na verdade a conversa foi por longos minutos sobre tudo o que envolve a festa, a formação de um grupo de pessoas dispostas a organizar tudo, até as empresas que trabalham apenas para este fim.

Por que eu gastarei uns três mil reais para participar de uma festa que dura umas oito horas e depois só me respará umas fotos (que terei que pagar muito caro para tê-las)?
Por que temos que nos expor em um baile para amigos e família?
por que precisamos nos afirmar, mostrar que existimos e somos importantes?
Por que precisamos provar que somos capazes?

Precisamos realmente de auto afirmação?

Creio que uma formatura, como acontece em Cuiabá ou outras cidades do Brasil, não aconteça em nenhuma outra parte do mundo. Me parece que há uma necessidade do brasileiro de se mostrar, exibir o seu "valor", a sua "capacidade" através de uma festa ostencível. Como se através dela em que, você como formando, é o centro das atenções, desde a sua roupa que é diferente e mais chamativa que as demais até o momento em que surge, de algum lugar, como um dos donos da festa. Apresentando-se, agora como um "novo" profissional que está a serviço da sociedade.

Um baile de formatura não é nada mais que uma vitrine de shopping. Muda o propósito, mas não o estado.



Ps: Além de fotógrafo sou estudante (em duas faculdades) e também sou da comissão organizadora das festas.

15 agosto 2008

será?

Outro dia eu tinha nove anos.
Morava em uma cidade do interior com mais uns trinta mil vizinhos.
E um desses era exatamente o que morava e trabalhava duas casas depois da minha, que no caso, funcionava como farmácia na parte da frente e a casa dos donos ao fundo (uns três quartos para dormir apenas, se não me falha a memória).
Os donos foram embora e deixaram para três jovens administrarem, um deles farmacêutico.

Havia um córrego no fundo de minha casa, que também era o fundo da farmácia, do bar e de todos que moravam naquela rua.

Certa vez estava brincando e comendo goiaba na beira do córrego, quando apareceu um dos novos moradores da rua. Um cara bonito, alto, branco. Aproximadamente vinte e oito anos.
Conversamos sobre a goiaba, lembro bem.
Mas a parte que não esqueço é o convite que me foi feito.

Com nove anos de idade você não sabe e não conhece o que é o sexo, pelo menos eu, um morador de Custódia não sabia.

Fui convidado a colocar o pênis dele em minha boca, lembro que achei estranho, diferente e meio sem sentido.
Mas teria uma vantagem: essa lembro bem, eu receberia um dinheiro em troca, não me recordo o valor exato, mas algo como uns cinco reais hoje. E mais uma vantagem: eu poderia pensar, teria até o outro dia, naquela mesma hora para saber se sim ou se não aceitaria.
Ele estaria lá, e se eu fosse o negócio estaria fechado.

Cheguei em casa e fiquei pensando na possibilidade do sim, pois com o dinheiro poderia fazer várias coisas, dentre elas, comprar uma lata de doce de leita da Tambau, que para mim, até hoje, é o melhor do mundo.
Também pensei em comprar um carinho, os meus já estavam velhos demais.
Porém o que não saia de minha cabeça era o fato de ter que colocar em minha boca um órgão que usamos para outra finalidade.

Pensei em perguntar para um dos meus primos, pedir conselhos, mais aí lembrei que ele havia pedido segredo.

Dormi pensando, fui a aula pensando.
No horário combinado pensei em ir, não iria me custar muito, seria apenas sentir um negócio por uns segundos e depois eu teria o tão sonhado dinheiro. Mas fiquei com medo.

Não fui.