15 agosto 2008

será?

Outro dia eu tinha nove anos.
Morava em uma cidade do interior com mais uns trinta mil vizinhos.
E um desses era exatamente o que morava e trabalhava duas casas depois da minha, que no caso, funcionava como farmácia na parte da frente e a casa dos donos ao fundo (uns três quartos para dormir apenas, se não me falha a memória).
Os donos foram embora e deixaram para três jovens administrarem, um deles farmacêutico.

Havia um córrego no fundo de minha casa, que também era o fundo da farmácia, do bar e de todos que moravam naquela rua.

Certa vez estava brincando e comendo goiaba na beira do córrego, quando apareceu um dos novos moradores da rua. Um cara bonito, alto, branco. Aproximadamente vinte e oito anos.
Conversamos sobre a goiaba, lembro bem.
Mas a parte que não esqueço é o convite que me foi feito.

Com nove anos de idade você não sabe e não conhece o que é o sexo, pelo menos eu, um morador de Custódia não sabia.

Fui convidado a colocar o pênis dele em minha boca, lembro que achei estranho, diferente e meio sem sentido.
Mas teria uma vantagem: essa lembro bem, eu receberia um dinheiro em troca, não me recordo o valor exato, mas algo como uns cinco reais hoje. E mais uma vantagem: eu poderia pensar, teria até o outro dia, naquela mesma hora para saber se sim ou se não aceitaria.
Ele estaria lá, e se eu fosse o negócio estaria fechado.

Cheguei em casa e fiquei pensando na possibilidade do sim, pois com o dinheiro poderia fazer várias coisas, dentre elas, comprar uma lata de doce de leita da Tambau, que para mim, até hoje, é o melhor do mundo.
Também pensei em comprar um carinho, os meus já estavam velhos demais.
Porém o que não saia de minha cabeça era o fato de ter que colocar em minha boca um órgão que usamos para outra finalidade.

Pensei em perguntar para um dos meus primos, pedir conselhos, mais aí lembrei que ele havia pedido segredo.

Dormi pensando, fui a aula pensando.
No horário combinado pensei em ir, não iria me custar muito, seria apenas sentir um negócio por uns segundos e depois eu teria o tão sonhado dinheiro. Mas fiquei com medo.

Não fui.

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